quinta-feira, 7 de junho de 2012

pelas serras gaúchas

Quando se fala em serras gaúchas logo vem à mente de quem não é do sul do País as cidades de Canela e Gramado, esta, nacionalmente conhecida pelo seu festival anual de cinema. Mas a região serrana no Rio Grande do Sul é muito mais do que estas duas cidades fundadas por imigrantes alemães. Há as italiníssimas Caxias do Sul (segunda maior cidade gaúcha) e Bento Gonçalves, com seus vinhedos, e as cidades dos campos de cima da serra, como São Francisco de Paula e Cambará do Sul, tipicamente gaúchas. A ideia de percorrer estas cidades não era exatamente nova: quando tinha vindo para o Sul durante o meu ano sabático, fazia parte dos meus planos - mudados por conta das chuvas - passar pelos cânions da região. Portanto, quando minha amiga Gabriela, bióloga e fotógrafa de Novo Hamburgo, que mora hoje em Porto Alegre, sugeriu uma trip pelas serras gaúchas, topei na hora. E a previsão do tempo era das melhores: frio de rachar, com temperaturas abaixo de zero e - juro - neve (apesar do aviso dela que isso era conversa para atrair turista)! Depois de quase perder o voo - só consegui embarcar porque ele atrasou e a funcionária da TAM se comoveu com a história de um caipira que tinha viajado três horas e se perdido em São Paulo -, desembarquei em Porto Alegre na véspera do feriado de Corpus Christi. No final da manhã do gelado dia seguinte, saímos da capital gaúcha no carro da Gabriela e tomamos a BR 116 em direção a São Leopoldo e Novo Hamburgo, pegamos a RS-140 e, finalmente, a RS-020, na cidade de Taquara. Ali se inicia a subida da serra e já se pode notar a mudança de paisagem e sentir o ar ficar ainda mais gelado.
No caminho, diversas vendas de produtos colonos e suas casas típicas, feitas de madeira, de onde quase sempre se pode ver a fumaça dos fogões a lenha sair pela chaminé. Passamos por cidades como Igrejinha e Três Coroas, onde, segundo minha amiga-guia, há um templo budista. Por coincidência, logo que ela me contou sobre o templo, topamos com um restaurante de culinária tibetana chamado Tashi Ling numa das inúmeras curvas da estrada. Com a fome falando alto, paramos para conferir e tivemos uma grata surpresa. Inúmeros mantras coloridos pendurados no beiral do telhado preparavam a entrada para um salão simples de madeira, com colunas e teto pintados com cores vivas e diversos balões brancos decoravam o ambiente. Por sugestão do garçom, pedimos trouxinhas recheadas de carne e legumes de entrada e cordeiro ao molho de cravo. Sensacional. Pé na estrada de novo, seguimos pela Rota dos Campos de Cima da Serra, cruzando os ditos cujos, infindáveis campos em ambos os lados da bela e sinuosa estrada, com muitos capões de pinheiros e araucárias, até São Francisco de Paula, onde paramos para comprar um gorro e um cachecol que eu tinha esquecido e paramos para tirar algumas fotos. De lá, tocamos para Cambará do Sul já no fim de tarde. A cidade é uma espécie de capital nacional dos cânions, tamanha a quantidade deles que fica em seu território. São cerca de 50, divididos entre o Parque Nacional de Aparados da Serra e o Parque Nacional da Serra Geral, que têm suas sedes no município. A estrada que cruza o Parque Nacional de Aparados da Serra e liga Cambará do Sul, no Rio Grande do Sul, a Praia Grande, em Santa Catarina é de cascalho e é péssima no trecho de descida. E o pior é que a noite caiu no meio dos cerca de 40 quilômetros que separa as duas cidades, tornando a viagem bem chata. Ao menos deu para tirar algumas ótimas fotos, apesar do frio absurdo que fazia com que conseguissemos ficar somente um ou dois minutos fora do carro (os termômetros bateram seis graus negativos em Cambará). A opção da Gabi por escolher Praia Grande como base foi muito boa, pois de lá partem as trilhas para se conhecer o interior dos cânions, já que a cidade fica ao pé da serra, enquando Cambará do Sul fica ao alto dela. Além disso, apesar da pouca estrutura, a cidade catarinense possui hospedagens muito baratas e pessoas extremamente simpáticas, que conhecemos nos dias seguintes.
Ficamos em um hostel muito legal, chamado Nativos dos Canyons, comandado por Seu Aldoir. Ex-guarda florestal, ele é uma figura sensacional, muito carismática, que foi nosso guia na trilha para a Pedra Branca, dois dias depois. Combinamos de fazer a trilha do Rio do Boi, a mais longa para o interior dos cânions, no dia seguinte pela manhã e fomos descansar naquela que seria a noite mais fria do ano, não sem antes encarar um banho gelado, já que o chuveiro capenga não dava conta de esquentar a água que vinha da montanha.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Barcelona x Real Madrid

Estive ontem no Camp Nou para acompanhar o jogo de volta da final da Supercopa da Espanha entre Barça e Real Madrid.
Já havia ido a uma partida do Barcelona há alguns anos atrás contra o Villareal pela Liga, mas desta vez foi diferente. Ainda que o título não valesse nada, o que interessava para todos aqui era bater o maior rival. Os jornais espanhois são absolutamente parciais e, não raro, viajam na maionese. Principalmente o Marca, de Madrid. A rivalidade é antiga e remete a um passado político que deixou profundas marcas. Barcelona, como muitas outras cidades, resistiu fortemente ao nacionalismo de Franco. Este, quando assumiu o poder com a vitória na sangrenta Guerra Civil (com a ajuda de Hitler e Mussolini), proibiu oficialmente manifestações culturais que não as castelhanas, o que, obviamente, incluía a língua catalã, o que levou o clube a mudar o começo de seu nome.
Por alguns anos, o presidente do clube chegou a ser indicado pelo governo central espanhol e foi por muitas vezes prejudicado pela arbitragem e por decisões políticas. Hoje, o Barcelona faz jus a seu lema (més que un club), e, mais que um clube, é um símbolo do orgulho catalão. Voltando à partida, a ida ao estádio tranquila. O metrô deixa perto e, ainda assim, não há lotação. A sinalização para chegar é clara e os policiais informam onde fica o seu acesso. Tempo de tomar umas cañas e comer umas aceitunas e curtir o movimento. Muitos turistas vêm só para assistir a um jogo do Barcelona. Ouve-se tudo que é língua, mas, principalmente, o catalão. Na escrita, lembra o francês. Falado, lembra o chiado do sotaque paulista. A entrada é muito fácil. São uns 20 portões de acesso a um amplo espaço em torno do estádio, mais uns 100 outros portões de acesso ao estádio propriamente dito.
Sobe-se alguns lances de escada que levam a corredores, com mais centenas de entradas às arquibancadas. Mas você já é levado aos portões que precisa acessar para chegar ao seu lugar, devidamente marcado e respeitado. O estádio estava cheio, mas não lotado. Havia espaços nas "sociais" e atrás de um dos gols, onde ficam os "barras bravas" locais, que ostentam mais bandeiras da Catalunya do que do próprio Barcelona. Há duas ou três músicas que a torcida entoa, além do hino. Não se compara a vibração da galera neste jogo com o outro que havia assistido. Contra o Real é outra história. Começou o jogo e logo deu para ver uma pegada muito forte do Real Madrid. Marcação adiantada, apertando a saída de bola. O que mais me chamou a atenção em ver um jogo no estádio foi como ambos os times jogam compactos.
Na maior parte do tempo, os dois times ocupam uma faixa não maior do que 35, 40 metros do campo, o que explica muita coisa. Para mim, esse sistema funciona bem entre equipes espanholas e, em alguma medida (e só para o Barça), contra outras equipes europeias. Como jogam em uma linha muito adiantada, sobre sempre cerca de 30 metros de campo entre a zaga e o gol. Assim nasceu o primeiro gol: Messi cortou dois em diagonal e enfiou a bola para o Iniesta, livre, tocar na saída do goleiro. Engraçado é que a pegada é muito menor do que eu esperava. Na verdade, como os times são muito compactos, os jogadores estão muito próximos e sempre conseguem chegar junto. Mas isso não significa que sejam grandes marcadores. Tanto que o Messi deita e rola. Pude ver um jogo do Messi pela Argentina contra a Costa Rica pela Copa América.
Quando o outro time o marca de perto e recua a linha da zaga para perto da área, ele rende muito menos. Voltando ao jogo, o Real achou o empate em uma jogada de escanteio e o Barça fez o segundo num golaço de Messi, que recebeu um baita passe de letra. Um que, ao vivo, não pareceu nada demais, foi o Cristiano Ronaldo. Aberto na esquerda no primeiro tempo, centralizado no segundo, não ganhou uma. Já o Xavi, para mim, é um dos melhores jogadores na atualidade. Joga simples e fácil. Toca e se mexe. Sempre aparece para receber. Aos 30 e tantos do segundo tempo, Kaká entrou no lugar do Ozil e bateu o escanteio para o Pepe (odiado pela torcida do Barcelona) cabecear, o Valdez fazer um milagre o Benzema empurrar para o gol. Achei que ia rolar uma prorrogação, e, quem sabe, pênaltis, mas o Messi meteu outro golaço de voleio, para delírio da galera. No final, o imbecil do Marcelo deu um carrinho por trás em alguém bem em frente aos bancos e começou um empurra-empurra, que rendeu muitos comentários depois da partida por conta da agressão do técnico do Real, José Mourinho, a um integrante da comissão do Barça. Mas isso não impediu muita festa (azul-grená, claro) ao final do jogo. Como o jogo começou tarde, acabou lá pela uma da matina, o que deu um certo trabalho para voltar para onde estou hospedado, mas, claro, valeu a pena pelo jogo movimentado e a pela festa que se seguiu.


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Sevilha

 Por uma série de razões, demorei para voltar a escrever sobre o ano sabático, especialmente a respeito da road trip pela Andaluzia. Mas cá estou eu de volta para terminar de contar sobre essa bacana experiência. O problema de escrever um bom tempo depois é que você perde um pouco aquela coisa da empolgação do momento e, neste caso, posso até esquecer de alguns nomes, lugares e coisas pois não deixei o meu caderninho de anotações em dia. Mas vamos lá: se Málaga foi a grande surpresa dessa viagem, Sevilha superou as expectativas - já altas - e se mostrou um dos lugares mais legais que visitei na Espanha (rivalizando com Tarifa), seja pela beleza de seus prédios históricos, praças e ruas, seja por ser a mais perfeita tradução do espírito andaluz e, por consequência, do espanhol tal como visto pelo estrangeiro: alegre, amante do bom vinho e da boa comida, que trabalha para viver - e não o oposto -. A estrada entre Málaga e Sevilha (A45 e, depois, A92) é muito bonita e, como todas as que percorremos, bem conservada e sinalizada. O trecho inicial cruza uma bela serra e, à medida em que se alcança a planície, infindáveis plantações de oliveiras e girassóis margeiam o caminho. Ficamos em um hotel muito bacana, quatro estrelas, por um preço muito, mas muito barato, provavelmente por termos deixado para reservá-lo pouco antes de deixar Málaga. Como sou avesso ao GPS e não tinha um mapa decente da cidade, nos perdemos um montão para encontrá-lo, mas foi legal para ter uma boa ideia das direções da cidade. O calor no verão é inacreditável. Os termômetros marcavam 42 graus quando chegamos, o que deixava as ruas desertas. Não se via viv'alma e, nos dias seguintes, constatamos que pouquíssimas pessoas circulam entre as 14hs e as 17hs e a maior parte do comércio fecha. Há muitos lugares bacanas para se visitar na cidade, como a Catedral, com sua bela torre, La Giralda, o Parque María Luisa e o Real Alcazar, linda residência que abrigou diversos reis católicos, construído sobre antigos palácios mouros. É um dos maiores exemplos do estilo mudéjar (muçulmanos que permaneceram na Espanha após a Reconquista pelos Reis Católicos) da arquitetura mourisca, caracterizado pelo trabalho ornamental, gesso e cerâmica, com muitos arcos e uso ornamental de caligrafia. Destaque para o Patio de Las Doncellas e para o Salón de Embajadores, com seu espetacular domo. Já no Parque María Luisa - construído em um grande terreno doado pela princesa que leva seu nome -, o destaque fica para a Plaza de Espana, cenário para a exposição Ibero-Americana de 1.929. Dezenas de casarões no entorno do parque abrigaram os pavilhões dos países participantes, inclusive o Brasil, cujo prédio neo-barroco hoje é da Universidade de Sevilha. Já na enorme Catedral, construída entre os séculos XIV e XV sobre uma antiga mesquita, fica o interessante túmulo de Cristóvão Colombo e a incrível Capilla Mayor e seu maravilhoso Retablo Mayor, composto por 44 painéis em relevo, sendo que os quatro centrais contam a assunção, ressurreição e nascimento de Cristo, além da assunção de Virgem Maria. Já na parte externa se encontra uma das duas construções remanescentes da mesquita que havia no local, o Patio de los Naranjos, onde os muçulmanos lavavam suas mãos às sombras de laranjeiras antes das preces. A outra é a torre, chamada de La Giralda por conta de uma espécie de catavento (giraldillo) localizado no topo do campanário. Originalmente o minarete da mesquita, a ela foram acrescentados o campanário, sinos e diversos outros símbolos católicos. Outro lugar interessante é a Casa de Pilatos, construída pelo primeiro Marquês de Tarifa. Mais um exemplo da arquitetura mudéjar, com um pouco mais de influência renascentista. Todos esses locais são realmente lindos e já valeriam a visita, mas o mais legal mesmo é - a exemplo de todos os outros lugares que visitei na Espanha - percorrer a pé as ruas da cidade, principalmente do Barrio de Santa Cruz, onde dezenas de bares e restaurantes, muito deles em agradáveis plazas - e quase todas com terrazas - atraem os visitantes, ou a Triana, antigo bairro cigano às margens do Rio Guadalquivir, especialmente a Calle de Betis, pequeno trecho onde há vários bares, restaurantes e casas onde se pode tomar uma boa sangria no fim de tarde e escutar música típica espanhola ao vivo. Aliás, para mim, um dos melhores programas de toda a viagem foi justamente acompanhar uma apresentação de música espanhola ao vivo em uma peña. O lugar era um bar bem simples, com poucas mesas baixas e um balcão onde um guitarrista tocava acompanhado por palmas batidas por seus companheiros, que se revezavam em cantar músicas típicas, cujas letras ora falavam de amores, correspondidos ou não, ora falavam da vida no campo. O público era formado em sua maioria por espanhóis mais maduros que se divertiam com as "interpretações" meio teatrais das músicas, que misturam canto e dança. Sensacional. Ao final há um link para o vídeo que fiz. Vale a pena conferir.













quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Málaga

Saímos da Comunidad Valenciana pela Autovía del Mediterraneo e seguimos por toda a tarde para Málaga. Quando imaginei a viagem, a ideia era não gastar mais do que quatro horas no deslocamento entre as cidades, motivo pelo qual pensei em parar em Almeria, que fica mais ou menos na metade do caminho. Só que, no dia anterior à partida de Alicante, quando buscava a próxima hospedagem, confundi-me e reservei um mocó em Málaga, a cerca de 500 quilômetros de distância. O jeito foi "pular" Almeria. Não poderíamos ter começado o giro pela Andaluzia em lugar melhor: Málaga foi uma das mais gratas surpresas da viagem! A cidade natal de Pablo Picasso não é pequena (tem quase 700 mil habitantes), mas as principais atrações ficam concentradas em seu pequeno e muito bonito centro histórico, com destaque para a linda catedral e a imponente alcazaba, ou fortaleza moura, construída há mais de mil anos e que domina a paisagem local.
Construída sobre um estratégico morro perto do porto natural, incorporou as muralhas da antiga cidade romana. Ao seu pé ficam as ruínas do anfiteatro romano, mostrando que a cidade já passou - e sobreviveu - ao domínio de muita gente. O mais bacana é andar e se perder pelas inúmeras ruas de pedestres, que muitas vezes se parecem com labirintos estreitos e cheio de "quebradas". Dezenas de lojinhas, restaurantes e baras de copas e tapas se misturam aos prédios históricos, a maioria bem conservada. A casa onde o famoso pintor espanhol nasceu e viveu até o início da adolescência virou um museu e algumas de suas obras estão expostas no Museo Picasso de Málaga. Interessante, mas não imperdível. A exemplo de outras catedrais, a Catedral de La Encarnacion foi construída ao longo de três séculos e, por isso, há uma cerca mistura de estilos. As obras da segunda torre foram abandonadas quando os fundos da catedral ficaram prontos e, por isso, ela recebeu o apelido de La Manquita. À noite, o programa era andar pelo centro e praticar o tapeo, ou seja, parar em vários bares para experimentar diferentes tapas acompanhadas, claro, de uma caña ou de um tinto de verano, uma mistura de vinho de qualidade inferior com gaseosa (espécie de refrigerante de limão) e muito gelo. Um dos mais bacanas é a Bodega El Pimpi, aos pés do morro onde fica a alcazaba, com uma bela vista dela toda iluminada. Durante o dia, um pulinho em praias próximas já que ninguém é de ferro. Na província de Málaga, mas no município de Torremolinos, fomos à Playa de Los Álamos, que segue o esquema das praias urbanas da região: chiringuito (bar na praia que funciona somente durante o verão), huamaca (espreguiçadeira com almofada) e guarda-sol. Um pouco mais afastada, fica Marbella, balneário de luxo muito procurado por gente famosa e endinheirada da Espanha e - por que não? - da Europa. Alamedas muito bem conservadas e arborizadas, gente bonita e chiringuitos muito mais arrumadinhos tão o tom.
Ficamos na Playa Casablanca, bacaninha, mas parecida com as demais, com uma importante diferença. Essa região do litoral espanhol é conhecida como Costa del Sol e não é por acaso: ao que consta, são mais de 300 dias de sol por ano! De fato, nem uma mísera nuvem apareceu durante nossa estada por essas bandas (a bem da verdade, fiquei quase um mês sem ver qualquer nuvem), o que já faz valer a visita.


segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Alicante

Chamada pelos locais de Alacant (em valenciano), Alicante poderia ser descrita como "Guarujón" pelas diversas semelhanças que tem com nossa simpática cidade do litoral paulista.
A começar pela quantidade de gente que se aglomera no calçadão na avenida da praia central no começo da noite em busca de regalos nas inúmeras barracas de lembrancinhas e artesanato ali instaladas ou pelo concerto de "sinfônica" de jovens músicos alicantinos para delírio do público de centenas de velhinhos que foi prestigiar o evento. Chega-se a todas as praias urbanas com o tram, uma espécie de bonde com ar condicionado e grandes janelas que percorre toda a orla. Fomos ao canto direito da Playa San Juan, um pouco mais afastado do centro e, por isso, menos abarrotada. Sim, os espanhois levam a sério esse negócio de férias de verão e botam o pé na estrada, principalmente em direção ao litoral. Nos guardas-sóis ao lado, dezenas de famílias como tudo o que têm direito: baldes, pás, lanchinhos, cerveja e todo o necessário para uma boa farofa de final de semana! À noite, uma mostra do que iríamos comprovar nas próximas semanas: o gosto do espanhol pela vida - e pela noite - ao ar livre. Nas ruas de pedestres do centro histórico, uma centena de bares e restaurantes colocam suas mesas ao ar livre e milhares de pessoas (não é exagero) mandam ver nas cañas e nas tapas. Mais tarde, geralmente depois da meia-noite, as casas noturnas abrem suas portas para todo tipo de gente. Em boa parte delas, você não paga nada para entram, o que é muito bom porque se pode dar uma conferida no que rola. Na maior parte das vezes, dá para se entender porque elas não cobram para você entrar...A verdade é que Alicante foi a cidade que menos gostei nesse giro fora do eixo Madrid-Barcelona, o que não quer dizer que não tenha lá o seu interesse, mas só vale como ponto de passagem, e, mesmo assim, desde que você tenha bastante tempo de viagem. Mas, Alicante foi a cidade onde tivemos a melhor refeição, considerando entrada, prato principal, sobremesa e bebida. Foi no restaurante La Taberna del Gourmet, um local descoladinho na rua onde estávamos hospedados. Não conta com muitas mesas, mas tem uma adega de vinhos climatizada e a comida é muito boa. Como entrada, queso de cabra con miel y hierbas. Sensacional. Depois, um bacalhau com molho de azeite, alho e páprica e um quase sashimi de atum. Para acompanhar, um vinho branco gelado sugerido pela garçonete. Agora sim, estávamos prontos para chegar à Andaluzia!


sexta-feira, 29 de julho de 2011

Valência

A menos de 400 kms de Barcelona, em direção ao sul seguindo pelo litoral, fica a terceira maior cidade da Espanha, Valência. De carro, chega-se a ela AP 7, uma longa estrada que passa por quase todo o litoral sul espanhol, também chamada Autovía del Mediterraneo. Nesse trecho ela é pedagiada, mas há a opção de seguir pela N340, que segue quase paralela. O problema é que ela atravessa tudo quanto é vilarejo e há inúmeras rotondas (rotatórias) que fazem o barato sair bem chato. A cidade é muito bacana e vale muito a pena visitá-la. Construções históricas e prédio modernos convivem em harmonia. Boa parte dos pontos de interesse ficam na Ciudad Vieja, como o Ayuntamiento (Prefeitura), a Catedral e o mercado central, e tudo pode ser percorrido a pé. Em um desses giros à noite, sentamos em uma mesa na calçada de um bar na Plaza del Ayuntamiento para tomar uma caña e comer umas tapas e fomos surpreendidos pelo encontro de um grupo de tuna chamado Quarentunos, formados por cerca de 15 senhores (quase todos acompanhados de suas señoras) que aparentavam não menos que 50 anos, que tocavam músicas populares espanholas em violões, bandolins e cavaquinhos. Bonito demais. Ainda que você não tenha muito tempo, vale visitar o mercado central, um bonito edifício no estilo art noveau, com mais de trezentas bancas do que há de melhor na culinária espanhola. Azeitonas, queijos e, claro, o jamón. Verdadeira instituição espanhola, esta espécie de presunto cru é obtidas das patas traseiras do porco e pode ser encontrada em absolutamente todos os lugares que se prezem na Espanha. Experimente também uma espécie de bolacha em forma de palito com anis muito boa que se chamam rosquilletas. Também em art noveau, a Estación del Norte fica próxima ao Ayuntamiento e é ricamente decorada com cerâmica. Há diversos quadros de cerâmica em mosaico desejando "boa viagem" em diversas línguas. Por falar em cerâmica, e se você tiver um pouco mais de tempo (na minha opinião, duas noites e três dias está de bom tamanho), uma boa dica é o Museu Nacional de Cerâmica, antiga residência do Marques de Dos Aguas. Através dos suntuosos cômodos do belo casarão do século XVIII, há diversas peças que são interessantes até para alguém que, como eu, não tem nada que ver com cerâmica. 
Ainda na Cuidad Vieja, colado ao centro, fica o Barrio del Carmen, repleto de bares, restaurantes e baladas para todos os gostos, frequentados por diferentes tribos. Sinceramente, nada demais. Se você for a Valência fora da época de férias, seja mais criativo e vá para o bairro de Aragon, repleto de bares "universitários". Um passeio bem bacana é caminhar pelo leito do Rio Turia, que atravessa e divide a cidade. Seco, o antigo leito foi transformado em um enorme parque, com pistas de cooper, ciclovias, quiosques de bebida e comida e até um parque de diversões. Mas o mais legal mesmo fica no fim dos Jardines del Rio Turia: a Ciutat de les Arts i de les Ciences. Um complexo de cinco edifícios sensacionais, meio futuristas, que é o cartão-postal da cidade. Destaques para o Palau de las Arts e o Museo de les Ciences. Há, ainda, o Oceanografic, um enorme aquário que parece ser muito bacana, mas que não visitamos porque achamos cara a entrada: 24 euros! No final desta caminhada, paramos em um bar em uma avenida próxima e experimentamos uma das bebidas típicas de Valência, a horchada. De aparência leitosa, a bebida é feita de chufos (um tipo de amendoa) e é servida gelada. Muito boa. A outra bebida da cidade é, na verdade, um drinka agua de valencia, uma mistura de cava (espumante) com suco de laranja. Saindo deste bar, pegamos um ônibus de volta ao centro, quando aconteceu a mais incrível coincidência da viagem. 
Três dias antes, a Gabriela, minha parceira de viagem, encontrou uma câmera fotográfica no táxi em que estava em Barcelona. Meio por não saber o que fazer, meio por medo que o taxista pegasse a câmera para si, ela resolveu ficar com a máquina. Logo depois, ela própria esqueceu sua bolsa de praia cheia de coisas em outro táxi. Carma da máquina fotográfica, é claro! E o pior é que ela se deu conta que seria impossível encontrar os donos só pelas fotos. Nelas, aparecia um jovem casal no Parc Guell, em Barcelona e nada mais. Bom, eu disse que seria impossível...de repente, no meio do ônibus, para espanto da galera em volta, ela me solta um grito: "Duuuu, são eles, são eles!". "Eles quem?". "O casal da câmera!". Pois é, os dois estavam cruzando a avenida por onde o ônibus passava!!! Descemos do bumba no ponto seguinte sem tirar os olhos do casal e fomos atrás deles. O diálogo foi hilário: Gabriela - "Do you speak english?"; Menina - "Yes"; G - "you lost your camera?"; Menina, desconfiada - "yes, why?"; G - "Because i got it!"; Menina - "ai, meu Deussss!!!". Sim, eles eram brasileiros! De São José do Rio Preto! Tinham vindo de Barcelona e estavam indo embora de Valência dali a duas horas. Sensacional! Câmera devolvida, ganhamos um vinho de presente e uma incrível história para contar. Mais tarde, fomos ao Paseo de Neptuno, na orla da Playa de Malvarrosa, comer a famosa paella em um dos cerca de uma dúzia de restaurantes que ficam lado a lado. Não tem erro! Peça uma sangria para acompanhar. Muito perto dali ficam as enormes baladas de verão da cidade, apinhadas de locais e turistas. Mas, como se tudo isso não bastasse, Valência também tem praias! Fomos à Playa de La Pineda, a uns quinze minutos de carro do centro da cidade. Como quase todas as outras a que fomos depois, tem toda estrutura para o turismo, como duchas, estacionamento e guardas-sóis. Ok, não é igual às nossas, mas deu para matar as saudades.



terça-feira, 26 de julho de 2011

road trip pela Andaluzia

Quando tirei esse ano sabático para viajar, tinha em mente passar um tempo na Espanha. A ideia era emendar a estada em Londres com alguns meses em terras espanholas. Mas queria que minha vinda coincidisse com o verão, pois já tinha passado um inverno bem gelado na terra da Rainha e estava com saudades do calor. No final das contas, o vencimento do meu visto (e a falta de vontade/coragem de permanecer ilegal no país) aliado à proximidade do Carnaval me fez voltar ao Brasil, onde fiz algumas viagens bem bacanas para o sul, para o norte e para Fernando de Noronha e Rio. E como logo depois fui para a Argentina, pensei que minha vinda para a Espanha ficaria para outra oportunidade. Por isso, quando minha amiga Gabriela disse que ia passar suas férias do mestrado que faz em Londres em Barcelona, não vacilei: propus uma viagem de carro pelo sul da Espanha e ela topou na hora! Apesar do pouco tempo para organizar as coisas básicas (já que estava na Argentina), aluguei um carro e comprei a passagem aérea para Barcelona pela Singapore Airlines, a mais barata quando pesquisei. Se o horário de partida era ingrato (2:50hs da madruga), o de chegada (17:30hs) em Barcelona era ótima. Serviço de bordo excelente, você pode escolher entre duas opções de refeição e os talheres são de metal, além de centenas de opções de filmes e músicas. O avião chegou antes do horário previsto, passei muito rápido e sem nenhuma pergunta pela imigração e fui à locadora. Estava meio tenso por não ter a carteira internacional, mas foi tudo muito tranquilo. Acabei recebendo um upgrade de carro: ao invés de um Ford Focus, peguei uma BMW 116d. Sensacional e, acreditem, muito econômica. Agora que tava boyzão, fui encontrar minha amiga para planejar nosso próximo destino. Não fechamos nada com antecedência, o que fez a viagem ficar muito mais legal, apesar de um ou outro contratempo. A única coisa que tinha certa na minha cabeça era que queria ir até Cadiz, a cerca de 1200 kms de Barça, por influência de dois amigos espanhois que fiz em Londres. Sentamos, abrimos o mapa rodoviário que a locadora me deu e traçamos um "rota": Valência, Almeria, Alicante, Málaga, Cádiz e Sevilha, a qual, já adianto, não foi completamente seguida. Foram, ao todo, exatos 3237 quilômetros rodados e dez cidades visitadas ao longo de 20 dias de uma viagem que passarei a contar nos próximos posts!
Eduardo Cotrim - 20.08.11