quinta-feira, 7 de junho de 2012

pelas serras gaúchas

Quando se fala em serras gaúchas logo vem à mente de quem não é do sul do País as cidades de Canela e Gramado, esta, nacionalmente conhecida pelo seu festival anual de cinema. Mas a região serrana no Rio Grande do Sul é muito mais do que estas duas cidades fundadas por imigrantes alemães. Há as italiníssimas Caxias do Sul (segunda maior cidade gaúcha) e Bento Gonçalves, com seus vinhedos, e as cidades dos campos de cima da serra, como São Francisco de Paula e Cambará do Sul, tipicamente gaúchas. A ideia de percorrer estas cidades não era exatamente nova: quando tinha vindo para o Sul durante o meu ano sabático, fazia parte dos meus planos - mudados por conta das chuvas - passar pelos cânions da região. Portanto, quando minha amiga Gabriela, bióloga e fotógrafa de Novo Hamburgo, que mora hoje em Porto Alegre, sugeriu uma trip pelas serras gaúchas, topei na hora. E a previsão do tempo era das melhores: frio de rachar, com temperaturas abaixo de zero e - juro - neve (apesar do aviso dela que isso era conversa para atrair turista)! Depois de quase perder o voo - só consegui embarcar porque ele atrasou e a funcionária da TAM se comoveu com a história de um caipira que tinha viajado três horas e se perdido em São Paulo -, desembarquei em Porto Alegre na véspera do feriado de Corpus Christi. No final da manhã do gelado dia seguinte, saímos da capital gaúcha no carro da Gabriela e tomamos a BR 116 em direção a São Leopoldo e Novo Hamburgo, pegamos a RS-140 e, finalmente, a RS-020, na cidade de Taquara. Ali se inicia a subida da serra e já se pode notar a mudança de paisagem e sentir o ar ficar ainda mais gelado.
No caminho, diversas vendas de produtos colonos e suas casas típicas, feitas de madeira, de onde quase sempre se pode ver a fumaça dos fogões a lenha sair pela chaminé. Passamos por cidades como Igrejinha e Três Coroas, onde, segundo minha amiga-guia, há um templo budista. Por coincidência, logo que ela me contou sobre o templo, topamos com um restaurante de culinária tibetana chamado Tashi Ling numa das inúmeras curvas da estrada. Com a fome falando alto, paramos para conferir e tivemos uma grata surpresa. Inúmeros mantras coloridos pendurados no beiral do telhado preparavam a entrada para um salão simples de madeira, com colunas e teto pintados com cores vivas e diversos balões brancos decoravam o ambiente. Por sugestão do garçom, pedimos trouxinhas recheadas de carne e legumes de entrada e cordeiro ao molho de cravo. Sensacional. Pé na estrada de novo, seguimos pela Rota dos Campos de Cima da Serra, cruzando os ditos cujos, infindáveis campos em ambos os lados da bela e sinuosa estrada, com muitos capões de pinheiros e araucárias, até São Francisco de Paula, onde paramos para comprar um gorro e um cachecol que eu tinha esquecido e paramos para tirar algumas fotos. De lá, tocamos para Cambará do Sul já no fim de tarde. A cidade é uma espécie de capital nacional dos cânions, tamanha a quantidade deles que fica em seu território. São cerca de 50, divididos entre o Parque Nacional de Aparados da Serra e o Parque Nacional da Serra Geral, que têm suas sedes no município. A estrada que cruza o Parque Nacional de Aparados da Serra e liga Cambará do Sul, no Rio Grande do Sul, a Praia Grande, em Santa Catarina é de cascalho e é péssima no trecho de descida. E o pior é que a noite caiu no meio dos cerca de 40 quilômetros que separa as duas cidades, tornando a viagem bem chata. Ao menos deu para tirar algumas ótimas fotos, apesar do frio absurdo que fazia com que conseguissemos ficar somente um ou dois minutos fora do carro (os termômetros bateram seis graus negativos em Cambará). A opção da Gabi por escolher Praia Grande como base foi muito boa, pois de lá partem as trilhas para se conhecer o interior dos cânions, já que a cidade fica ao pé da serra, enquando Cambará do Sul fica ao alto dela. Além disso, apesar da pouca estrutura, a cidade catarinense possui hospedagens muito baratas e pessoas extremamente simpáticas, que conhecemos nos dias seguintes.
Ficamos em um hostel muito legal, chamado Nativos dos Canyons, comandado por Seu Aldoir. Ex-guarda florestal, ele é uma figura sensacional, muito carismática, que foi nosso guia na trilha para a Pedra Branca, dois dias depois. Combinamos de fazer a trilha do Rio do Boi, a mais longa para o interior dos cânions, no dia seguinte pela manhã e fomos descansar naquela que seria a noite mais fria do ano, não sem antes encarar um banho gelado, já que o chuveiro capenga não dava conta de esquentar a água que vinha da montanha.

Um comentário:

  1. depois do chuveiro gelado tu já estava agradecendo a história da neve ser lorota para turista né?!haha beijos

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