A menos de 400 kms de Barcelona, em direção ao sul seguindo pelo litoral, fica a terceira maior cidade da Espanha, Valência. De carro, chega-se a ela AP 7, uma longa estrada que passa por quase todo o litoral sul espanhol, também chamada Autovía del Mediterraneo. Nesse trecho ela é pedagiada, mas há a opção de seguir pela N340, que segue quase paralela. O problema é que ela atravessa tudo quanto é vilarejo e há inúmeras rotondas (rotatórias) que fazem o barato sair bem chato. A cidade é muito bacana e vale muito a pena visitá-la. Construções históricas e prédio modernos convivem em harmonia. Boa parte dos pontos de interesse ficam na Ciudad Vieja, como o Ayuntamiento (Prefeitura), a Catedral e o mercado central, e tudo pode ser percorrido a pé. Em um desses giros à noite, sentamos em uma mesa na calçada de um bar na Plaza del Ayuntamiento para tomar uma caña e comer umas tapas e fomos surpreendidos pelo encontro de um grupo de tuna chamado Quarentunos, formados por cerca de 15 senhores (quase todos acompanhados de suas señoras) que aparentavam não menos que 50 anos, que tocavam músicas populares espanholas em violões, bandolins e cavaquinhos. Bonito demais. Ainda que você não tenha muito tempo, vale visitar o mercado central, um bonito edifício no estilo art noveau, com mais de trezentas bancas do que há de melhor na culinária espanhola. Azeitonas, queijos e, claro, o jamón. Verdadeira instituição espanhola, esta espécie de presunto cru é obtidas das patas traseiras do porco e pode ser encontrada em absolutamente todos os lugares que se prezem na Espanha. Experimente também uma espécie de bolacha em forma de palito com anis muito boa que se chamam rosquilletas. Também em art noveau, a Estación del Norte fica próxima ao Ayuntamiento e é ricamente decorada com cerâmica. Há diversos quadros de cerâmica em mosaico desejando "boa viagem" em diversas línguas. Por falar em cerâmica, e se você tiver um pouco mais de tempo (na minha opinião, duas noites e três dias está de bom tamanho), uma boa dica é o Museu Nacional de Cerâmica, antiga residência do Marques de Dos Aguas. Através dos suntuosos cômodos do belo casarão do século XVIII, há diversas peças que são interessantes até para alguém que, como eu, não tem nada que ver com cerâmica.
Ainda na Cuidad Vieja, colado ao centro, fica o Barrio del Carmen, repleto de bares, restaurantes e baladas para todos os gostos, frequentados por diferentes tribos. Sinceramente, nada demais. Se você for a Valência fora da época de férias, seja mais criativo e vá para o bairro de Aragon, repleto de bares "universitários". Um passeio bem bacana é caminhar pelo leito do Rio Turia, que atravessa e divide a cidade. Seco, o antigo leito foi transformado em um enorme parque, com pistas de cooper, ciclovias, quiosques de bebida e comida e até um parque de diversões. Mas o mais legal mesmo fica no fim dos Jardines del Rio Turia: a Ciutat de les Arts i de les Ciences. Um complexo de cinco edifícios sensacionais, meio futuristas, que é o cartão-postal da cidade. Destaques para o Palau de las Arts e o Museo de les Ciences. Há, ainda, o Oceanografic, um enorme aquário que parece ser muito bacana, mas que não visitamos porque achamos cara a entrada: 24 euros! No final desta caminhada, paramos em um bar em uma avenida próxima e experimentamos uma das bebidas típicas de Valência, a horchada. De aparência leitosa, a bebida é feita de chufos (um tipo de amendoa) e é servida gelada. Muito boa. A outra bebida da cidade é, na verdade, um drink: a agua de valencia, uma mistura de cava (espumante) com suco de laranja. Saindo deste bar, pegamos um ônibus de volta ao centro, quando aconteceu a mais incrível coincidência da viagem.
Três dias antes, a Gabriela, minha parceira de viagem, encontrou uma câmera fotográfica no táxi em que estava em Barcelona. Meio por não saber o que fazer, meio por medo que o taxista pegasse a câmera para si, ela resolveu ficar com a máquina. Logo depois, ela própria esqueceu sua bolsa de praia cheia de coisas em outro táxi. Carma da máquina fotográfica, é claro! E o pior é que ela se deu conta que seria impossível encontrar os donos só pelas fotos. Nelas, aparecia um jovem casal no Parc Guell, em Barcelona e nada mais. Bom, eu disse que seria impossível...de repente, no meio do ônibus, para espanto da galera em volta, ela me solta um grito: "Duuuu, são eles, são eles!". "Eles quem?". "O casal da câmera!". Pois é, os dois estavam cruzando a avenida por onde o ônibus passava!!! Descemos do bumba no ponto seguinte sem tirar os olhos do casal e fomos atrás deles. O diálogo foi hilário: Gabriela - "Do you speak english?"; Menina - "Yes"; G - "you lost your camera?"; Menina, desconfiada - "yes, why?"; G - "Because i got it!"; Menina - "ai, meu Deussss!!!". Sim, eles eram brasileiros! De São José do Rio Preto! Tinham vindo de Barcelona e estavam indo embora de Valência dali a duas horas. Sensacional! Câmera devolvida, ganhamos um vinho de presente e uma incrível história para contar. Mais tarde, fomos ao Paseo de Neptuno, na orla da Playa de Malvarrosa, comer a famosa paella em um dos cerca de uma dúzia de restaurantes que ficam lado a lado. Não tem erro! Peça uma sangria para acompanhar. Muito perto dali ficam as enormes baladas de verão da cidade, apinhadas de locais e turistas. Mas, como se tudo isso não bastasse, Valência também tem praias! Fomos à Playa de La Pineda, a uns quinze minutos de carro do centro da cidade. Como quase todas as outras a que fomos depois, tem toda estrutura para o turismo, como duchas, estacionamento e guardas-sóis. Ok, não é igual às nossas, mas deu para matar as saudades.