segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Sevilha

 Por uma série de razões, demorei para voltar a escrever sobre o ano sabático, especialmente a respeito da road trip pela Andaluzia. Mas cá estou eu de volta para terminar de contar sobre essa bacana experiência. O problema de escrever um bom tempo depois é que você perde um pouco aquela coisa da empolgação do momento e, neste caso, posso até esquecer de alguns nomes, lugares e coisas pois não deixei o meu caderninho de anotações em dia. Mas vamos lá: se Málaga foi a grande surpresa dessa viagem, Sevilha superou as expectativas - já altas - e se mostrou um dos lugares mais legais que visitei na Espanha (rivalizando com Tarifa), seja pela beleza de seus prédios históricos, praças e ruas, seja por ser a mais perfeita tradução do espírito andaluz e, por consequência, do espanhol tal como visto pelo estrangeiro: alegre, amante do bom vinho e da boa comida, que trabalha para viver - e não o oposto -. A estrada entre Málaga e Sevilha (A45 e, depois, A92) é muito bonita e, como todas as que percorremos, bem conservada e sinalizada. O trecho inicial cruza uma bela serra e, à medida em que se alcança a planície, infindáveis plantações de oliveiras e girassóis margeiam o caminho. Ficamos em um hotel muito bacana, quatro estrelas, por um preço muito, mas muito barato, provavelmente por termos deixado para reservá-lo pouco antes de deixar Málaga. Como sou avesso ao GPS e não tinha um mapa decente da cidade, nos perdemos um montão para encontrá-lo, mas foi legal para ter uma boa ideia das direções da cidade. O calor no verão é inacreditável. Os termômetros marcavam 42 graus quando chegamos, o que deixava as ruas desertas. Não se via viv'alma e, nos dias seguintes, constatamos que pouquíssimas pessoas circulam entre as 14hs e as 17hs e a maior parte do comércio fecha. Há muitos lugares bacanas para se visitar na cidade, como a Catedral, com sua bela torre, La Giralda, o Parque María Luisa e o Real Alcazar, linda residência que abrigou diversos reis católicos, construído sobre antigos palácios mouros. É um dos maiores exemplos do estilo mudéjar (muçulmanos que permaneceram na Espanha após a Reconquista pelos Reis Católicos) da arquitetura mourisca, caracterizado pelo trabalho ornamental, gesso e cerâmica, com muitos arcos e uso ornamental de caligrafia. Destaque para o Patio de Las Doncellas e para o Salón de Embajadores, com seu espetacular domo. Já no Parque María Luisa - construído em um grande terreno doado pela princesa que leva seu nome -, o destaque fica para a Plaza de Espana, cenário para a exposição Ibero-Americana de 1.929. Dezenas de casarões no entorno do parque abrigaram os pavilhões dos países participantes, inclusive o Brasil, cujo prédio neo-barroco hoje é da Universidade de Sevilha. Já na enorme Catedral, construída entre os séculos XIV e XV sobre uma antiga mesquita, fica o interessante túmulo de Cristóvão Colombo e a incrível Capilla Mayor e seu maravilhoso Retablo Mayor, composto por 44 painéis em relevo, sendo que os quatro centrais contam a assunção, ressurreição e nascimento de Cristo, além da assunção de Virgem Maria. Já na parte externa se encontra uma das duas construções remanescentes da mesquita que havia no local, o Patio de los Naranjos, onde os muçulmanos lavavam suas mãos às sombras de laranjeiras antes das preces. A outra é a torre, chamada de La Giralda por conta de uma espécie de catavento (giraldillo) localizado no topo do campanário. Originalmente o minarete da mesquita, a ela foram acrescentados o campanário, sinos e diversos outros símbolos católicos. Outro lugar interessante é a Casa de Pilatos, construída pelo primeiro Marquês de Tarifa. Mais um exemplo da arquitetura mudéjar, com um pouco mais de influência renascentista. Todos esses locais são realmente lindos e já valeriam a visita, mas o mais legal mesmo é - a exemplo de todos os outros lugares que visitei na Espanha - percorrer a pé as ruas da cidade, principalmente do Barrio de Santa Cruz, onde dezenas de bares e restaurantes, muito deles em agradáveis plazas - e quase todas com terrazas - atraem os visitantes, ou a Triana, antigo bairro cigano às margens do Rio Guadalquivir, especialmente a Calle de Betis, pequeno trecho onde há vários bares, restaurantes e casas onde se pode tomar uma boa sangria no fim de tarde e escutar música típica espanhola ao vivo. Aliás, para mim, um dos melhores programas de toda a viagem foi justamente acompanhar uma apresentação de música espanhola ao vivo em uma peña. O lugar era um bar bem simples, com poucas mesas baixas e um balcão onde um guitarrista tocava acompanhado por palmas batidas por seus companheiros, que se revezavam em cantar músicas típicas, cujas letras ora falavam de amores, correspondidos ou não, ora falavam da vida no campo. O público era formado em sua maioria por espanhóis mais maduros que se divertiam com as "interpretações" meio teatrais das músicas, que misturam canto e dança. Sensacional. Ao final há um link para o vídeo que fiz. Vale a pena conferir.













3 comentários:

  1. adoro a Espanha, é meu ponto de concentração quando fizer o mochilão para Europa..e por coincidência li ainda essa semana sobre Andaluzia em outro lugar já achei muito interessante principalmente pela mistura muçulmana...pedirei outras futuras dicas certamente ;) beijos!
    Gabi

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  2. Já era apaixonada por suas fotos, e hoje li pela primeira vez seu texto... q talento... preciso conhece-lo e tentar absorver um pouco dessa sua cultura e experiencia de vida!! Tenho uma tentativa de viagem muuuito frustrada e acabei desanimando de viagens!!! Mas lendo e vendo suas fotos, acho que toda aquela magia de planejar esta voltando... vou absorver o maximo de seus textos e dicas para planejar... Em outubro estou de férias, então tenho um tempinho pra isso!!! Virei puxa-saco de seu talento!!!!
    Bjos
    Thais Maiochi

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