quarta-feira, 27 de abril de 2011

Belém - a metrópole e o cartão de visitas da Amazônia


Viajar para o Norte do Brasil não é tão simples assim. Primeiro, por conta da distância: Belém fica a quase 3.000 km de São Paulo, distância 500 km maior do que a que separa Paris de Moscou.
E depois pela péssima infraestrutura de transporte. Há basicamente duas vias terrestres, a BR-010, que liga Brasília a Belém, e a BR-316, cujo acesso é feito a partir de Teresina. Apesar de malha aeroviária ter melhorado bastante, ainda está longe da ideal, sem contar o preço altíssimo das passagens aéreas. Não há, por exemplo, vôos diretos para Boa Vista, onde eu deveria estar no dia 07 de maio, quando o grupo partiria para a Venezuela. Então, nada mais natural do que aproveitar a viagem à região Norte para conhecer outras cidades, como Belém, às margens da Baía do Guajará. Com seu 1,5 milhão de habitantes, a cidade é ótimo cartão de visitas para quem quer desbravar a região amazônica. Reservei duas noites em um bom albergue chamado Amazonia Hostel e marquei a passagem aérea de Manaus para Boa Vista para nove dias depois da chegada à cidade, deixando para decidir depois como iria de Belém a Manaus. No dia do embarque, madruguei e terminei de arrumar minha mochila, já deixada no jeito na noite anterior. Na chegada do tranquilo voo se tem uma bela vista da cidade para quem senta nas fileiras do lado direito do avião.
Cheguei ao hostel no meio da tarde, um pouco antes da pontual chuva e a tempo de acompanhar a final da Liga dos Campeões da Europa, entre Barcelona e Manchester United. O albergue fica num casarão antigo, com chão de tábuas de madeira e pé direito bem alto, típico da época de riqueza do ciclo da borracha. Estava vazio e pude ficar sozinho em um quarto. Diminuída a chuva, saí para dar um volta e comprar algumas coisas que faltavam para a expedição. Ainda perto do hostel, na esquina da Avenida Visconde Souza Franco com a Rua João Balbi, encontrei a barraca da D.Telma, simpática e caprichosa senhora que prepara e vende um dos  mais populares pratos típicos paraenses, o tacacá! É um caldo amarelo quente servido em uma cuia, feito com tucupi, camarão, pimenta, jambu e, vai do gosto do cliente, com goma de mandioca (eu gostei muito mais sem). Jambu e tucupi são outros dois ingredientes típicos da sensacional culinária paraense (só ela já vale a visita). O tucupi é extraído da raiz da mandioca-brava e passa por um longo processo de fervura para eliminar o ácido cianídrico. Muito utilizado em outros pratos típicos, como o pato no tucupi e no preparo de peixes locais. Já o jambu é uma erva que provoca uma certa dormência na boca e cai muito bem no tacacá. Muito bom, foi acompanhado de um bolinho de macaxeira. Já começava a cair a noite e fui a um shopping próximo comprar algumas coisas que faltavam, principalmente uma toalha ultra-absorvente para a trilha. Depois, dei mais uma volta no bairro em busca de um bar para acompanhar a rodada do brasileirão. Parei em um onde estavam passando vários jogos e, acabei conhecendo um maluco que estava tentando xavecar duas suecas instaladas numa mesa ao lado, mas não sabia falar inglês. Ele queria que as meninas fossem a uma balada com ele. Eu traduzia mais ou menos o que o cara queria dizer a elas, mas dei um toque que era furada. No fim, o cara foi embora e eu me juntei às meninas, que eram estudantes de arquitetura, estavam vindo de Manaus e iam no dia seguinte para Brasília. Elas me contaram que desceram o rio Amazonas de barco e resolvi que seria assim que iria para lá, apesar delas terem dito sobre a demora, desconforto e tudo mais. Fiquei pensando como elas são corajosas de vir para um país tão diferente do delas, em que pouca gente fala inglês, e sem falar uma palavra de português ou espanhol, se enfiar num barco por uma semana no meio do nada e ainda encarar algumas boas horas de viagem. Ao fim da viagem, percebi que, exceção feita à língua, eu não era tão menos estrangeiro que elas ali naquelas bandas. Após muita conversa, chegou a hora de voltar ao albergue e descansar, pois teria uma longo dia seguinte.
Tacacá = tucupi + jambu + camarão seco + pimenta + sal

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