Há exatamente um ano atrás eu chegava em Boa Vista, voltando
de uma “expedição” de oito dias ao Monte Roraima, o lugar mais sensacional que
visitei nos treze meses que durou o meu período sabático. Quando imaginei sair do Brasil para meu sabático,
tinha na cabeça morar seis meses em Londres, viajar por alguns meses pela
Europa e passar o verão na Espanha. Já tinha visitado o país ibérico duas
vezes, nunca fugindo do eixo Barcelona-Madrid, e estava decidido a voltar. Mas,
apesar de ter curtido muito o período londrino, a maior parte dos seis meses
que passei lá foram debaixo do mais frio inverno nos últimos 40 anos. À medida
que o fim do meu visto se aproximava, o verão avançava no Brasil, trazendo com
ele o Carnaval e as dezenas de e-mails de meus amigos planejando os
festejos de Momo, que me fizeram mudar os planos. 
Resolvi viajar pelo Brasil
depois de pular o Carnaval em Paraty e colocar um fim – assim pensava – nas
viagens pela Europa. A questão era: prá onde ir? Tinha muito tempo e nenhuma
companhia. Com o Guia Quatro Rodas na mão e pouca imaginação, decidi ir para os
quatro cantos do Brasil. Literalmente. Ou quase, pois o extremo oeste
brasileiro só é acessível com ajuda dos pelotões de infantaria de selva do
exército, que, de tempos em tempos, se enfiam no meio do mato para checagem e
manutenção dos marcos da fronteira. Comecei pelo extremo sul para aproveitar o
fim do verão e cheguei ao Chuí no fim de março. Foi durante esta viagem que
recebi o convite para escrever uma matéria para uma revista regional e resolvi
publicá-la em forma de diário no blog. Terminada a viagem, voltei para Itu e
comecei os preparativos para o trecho norte da empreitada. O ponto acessível
mais ao norte é o Monte Roraima, que fica na fronteira entre Brasil, Venezuela
e Guiana e já habitava havia muito tempo o meu imaginário (mas não para o
sabático). Pesquisei bastante e encontrei algumas agências venezuelanas e
algumas brasileiras (o acesso ao Monte só pode ser feito na companhia de guias
cadastrados). Os preços variavam bastante, mas optei por uma agência
brasileira, a Roraima Adventures, pensando (como advogado) que, caso algo desse
errado, seria menos difícil tentar reaver o dinheiro investido (ao contrário,
tudo correu da melhor maneira possível).
Havia poucas datas de saída de grupos
– e quanto menos gente, maior o preço – e optei inicialmente por uma no final
de abril. Mas acabei torcendo o pé jogando futebol e tive de adiar por quase
duas semanas a viagem pois meu tornozelo estava no tamanho de uma laranja. Uma das
melhores coisas de se ter tempo livre para viajar e fazê-lo fora de temporada é
que os preços são muito mais baixos. Aproveitei uma promoção da Gol e comprei
cinco trechos aéreos por 20 mil milhas, o que teve o seu lado bom e o seu lado
ruim. O lado bom, obviamente, foi o financeiro.
O lado ruim foi ter me obrigado a seguir um roteiro, o que me fez perder
muitas oportunidades de me embrenhar na cultura dos povos do norte do Brasil.
Se fosse fazer de novo, faria diferente. A viagem, que durou quase um mês,
começou por Belém e passou por Santarém, Manaus, Boa Vista, Monte Roraima,
Recife e terminou em Fernando de Noronha. Nos próximos posts (que terão data retroativa), não
necessariamente diários, afinal preciso escrever tudo do zero, contanto com as fotos, um bloquinho de anotações e as lembranças, vou contar como foi.
Eduardo Cotrim - 16/05/12
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